Salve Chief Seattle.

Depois do sucesso tremendo da Promoção Camisa de Flanela, ocorreu a idéia de ir visitar a cidade Seattle e experimentar o grungismo ao vivo e a cores e prestar homenagens ao local aonde nasceu esse movimento musical.

Chegando na cidade de Seattle, deu tempo de tomar um banho e zarpar (literalmente) para a ilha chamada Bainbrigde, que recebeu este nome por causa de uma família que era dona de boa parte da terra.

Em Bainbridge Island, Tim – trabalha na SAGE – foi me buscar na marina do ferry boat – uma balsa gigantesca. Em menos de 6 minutos estávamos na entrada da fábrica da marca líder em varas de pesca com mosca, estava lá na porta da SAGE a FSB marcando presença.

 

Na fábrica logo de cara conheci o Presidente da Corporação, uma pessoa de 2 metros de altura que conversa sobre tudo e está atento e anos a frente no que se refere a pescaria. (por motivos gerais não vou citar o nome).

Como cheguei tarde a fabrica, a maioria dos empregados já tinha ido pra casa, eles começam a montar varas as 4 da manhã, bem na hora que a gente pega o barco pra descer a serra por aqui, lembre disso quando estiver pegando sua SAGE para ir pescar cedinho.

Passei pela recepção, algumas varas na parede, fotos, diversas fotos, depois setor de vendas, administrativo, oi pra todo mundo “este é nosso dealer no Brasil “ “ohh !!!  nice to meet you ! “, e entramos no chão da fábrica. Primeira coisa que veio a mente é “este espaço deve ser um quinto do total”.

Um tour rápido, as bobinas do grafite que só a SAGE tem, os mandrils (espécie de forma no qual o grafite é enrolado), depois a resina, passando em outra sala fechada para pintura dos blanks, e outra sala aonde ocorre alguma alquimia pois ele nao me deixou filmar ou fotografar.

Na parede um armário aonde ficam as varas para reparo, nao inha nenhuma do Brasil, eu havia deixado algumas na recepção para mudar isso.

Outra mesa aonde é costurada uma a uma as meias de proteção, sim, também feito nos EUA.

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quando cruzamos o pequeno pátio, saimos pela porta e tinha um laguinho.. bom, aonde fica o outro prédio ? É só isso.. Caramba!

Ao entrarmos novamente Mr Jerry Siem, desenhista e desenvolvedor de varas estava voltando de algum teste com algumas peças de carbono enrolados e quebrados nas mãos. Parecia uma criança brincando.
Oh ! Você aqui! Lembro de você de Denver ! Vamos tirar uma foto! Fazer pose igual políticos se olhando.
Uma foto inusitada.

A sala dele é cheia de pontas de varas, a bagunça na qual só o próprio professor Pardal – para não dizer gênio – consegue se entender.

Na saída deixei algumas garantias preenchidas na portaria e fomos a outro prédio, 2 quadras longe dali, aonde é o Serviço de Atendimento aos Dealers. Só mulher trabalhando naquele momento, todas muito simpáticas e corteses. Pedi uma vara de presente pra mim mesmo (presente de mim para mim, por que gringo cobra tudo, se você respirar do lado do cara ele te cobra o O2, money money money – a ZAxis do post abaixo), vara que foi entregue no meu hotel no outro dia. Voce pode estar pensando, por que nao trouxe umas 15 varas pra vender ? Simplesmente por que as varas SAGE, Redington e carretilhas são importadas legalmente – e trazer debaixo do braço é coisa de muambeiro que vai pra Miami no busão da TAM.

Vapt Vupt, o Tim estava praticamente correndo, louco para ir pescar.

Ok, bye bye, thank you.

E partimos em direção noroeste para a cidade de Forks. Imaginei que seria um pulo, mas na verdade foram 200 milhas. Exausto não aguentei e acabei dormindo no carro, isso depois de ter parado no Wal Mart para comprar a licença de pesca, sem sucesso, o sistema estava fora do ar. Numa loja de munições conseguimos a licença, U$17. Algumas boas milhas se passaram e acordei com o solavanco do carro parando.
Hey, vamos comer aqui no cassino.
Cassino!
Os índios norte americanos possuem reservas de terra nas quais o Governo não tem controle, e eles – pouco espertos – abriram cassinos, e ganham um bocado de dinheiro. Sentamos no bar e o Tim começou a jogar na caça níquel, ganhou 3 dolares, depois perdeu 1, ganhou 5, 6, 7, 11, 15 ! Em pouco tempo ganhamos o jantar. Uma pizza com batata frita e camarões, e 4 cervejas. Nada mal.

Tocando a viagem, passamos por um lago muito grande, que diz ter trutas de até 3 kg.

Mais algumas milhas e chegamos ao motel de estrada aonde Chris nos aguardava com seu cachorro imenso (mistura de husky com lobos se entendi direito) e uma artilharia de materiais da SAGE que dava pra comprar um carro zero por aqui. Além de um wader, jaqueta impermeável, fleece, bota REDINGTON para eu pescar no dia seguinte. Ir pescar quase no Alasca com jaquetinha do Emporio Armani, calça de linho e sapato não dá certo.

Banho, cama, apaguei.

Acordo na madrugada com a pizza de batata frita e camarão pedindo licença para sair urgente. Ótimo, já era hora de acordar.

Atravessamos a rua e fomos tomar um café da manhã. Média e um pão com margarina ? Não, ovos, salsicha, pão integral, bacon, café café café servido diversas vezes e um copo de água com gelo, um katso de um copo de água com gelo as 5 e meia da manhã ! Ainda bem que a garçonete era bonita por que engolir aquela gordurada toda logo cedo foi de fazer o estomago chorar.

 

O boteco estava repleto de guias e pescadores. Bom sinal.

Apesar de Forks ser a cidade com menos dias de sol por ano de todo os EUA – por isso que filmaram lá este filme teenager Twilight (Crepúsculo) aquele do vampirinho vegetariano que não quer comer a gatinha moreninha e acaba virando sushi, não sei direito. Após esse acontecimento na vida da cidade, ordas de pessoas vão lá visitar o lugar, mas pergunto, visitar o que ? A cidade é minúscula. Não se nega que o lugar tem um aspecto sombrio e a luz é azul, não é clara, a luz não chega, falta alguma coisa,  é azul tipo de sala de hospital mexicano. Apesar disso o lugar é de uma beleza incrível.

Abastecemos o cooler com mais cerveja (naquele frio, uma cerveja gelada.. sei não) e partimos pro rio.

O trabalho agora era descer o barco por uma ribanceira de uns 10 metros. Chris que já foi guia no Alaska, Canadá, Chile e Argentina, fez parecer descer o meu barco na rampa aqui do litoral – uma das coisas que achava dificil e trabalhosa –  coisa de menininha. Eles levaram o carro com a carreta 6 milhas abaixo, voltaram com um carro e antes de embarcar, me passaram como é a pescaria, a técnica, uma aula dentro do rio. Ao entrar no rio já senti o frio nas canelas e pensei  “este será um dia muito fod* “… enfim… pescando.

Primeiros metros rio abaixo, Chris no remo, eu na proa, Tim na popa.
Pedra grande, lado esquerdo senhores!
Um esquema é lançar o split shot (bóia + chumbinho + moscas imitação de ovos de peixe) perto das pedronas, isso fazíamos enquanto embarcados.
Nada.
Os dois conversando, eu tentando me concentrar, tenso com o frio, com a cabeça molhada da chuva, um frio lazarento cortando as mãos e dá lhe instruções.
3 PEDRAS GRANDES PERTO DA MARGEM DIREITA, ACERTEM O ARREMESSO !
Meu Deus, isso vai dar m. – pensei quieto novamente.

Paramos em um bom trecho para swing a fly – swingar a mosca.
Técnica na qual se usa vara de duas mãos, por que não há espaço para arremesso sobre a cabeça e precisa usar uma vara longa para swing a linha rio abaixo com a distancia apropriada para manter a consistencia nas coberturas do grid imaginário que se traça para bater todos os centímetros do pedaço do rio.

Pernas dentro da água, swing, cast, mosca longe, mosca perto, swing, vai. Tira linha da carretilha, arremessa, swinga, desce 4 passos, arremessa curto, tira linha, arremessa, swinga, tira linha, arremessa mais longe, swinga, anda 4 passos.
E tenta, e tem fé, é agora, é neste arremesso que ela vai bater.
Mas que peixe fomos pescar mesmo ?
Chama-se Steelhead, o peixe de mil arremessos – eu diria 10 mil arremessos ! A média de batida por pescaria é de 1 batida para. .  .  .  .  . 5 pescarias. (isso no inverno). E só me contaram isso quando já estávamos no barco. Que legal hein.

Neste primeiro trecho não bateu – óbvio.

 

Embarca, troca de vara, usavamos as SAGE 99. É muito interessante como os equipamentos de qualidade ganham vida quando são utilizados de forma correta, no lugar correto. A BASS no mangue é espetacular, a TXL nas tilápias é outra maravilha, estas 99 foram feitas para pescar com os tais split shots, e fazer o mend da linha rio acima, sem esforço praticamente nenhum a ponta da vara levanta a linha e joga pra cima deixando a isca no lugar certo. Fiquei viciado em fazer o mend até que o Chris me disse “PARE DE FAZER MEND TÍAGO”. ooops.

E descemos o rio, parando, pescando no swing. A isca tem que passar na cara da steelhead para ela bater, por que elas nao estao no rio para comer, mas para desovar, é como voce ir ao motel com a amante e tentar comer um BIG MAC ao mesmo tempo, não tem sentido, mas se te passarem um suculento bife de mignon na mostarda na cara, embaixo do nariz.

E as steelheads nao ficam paradas muito tempo, elas estao nadando rio acima, entao a isca tem que estar na hora certa no lugar certo e nadar certo, ela precisa passar transversal a cara do peixe para instigar o ataque. Um trabalho árduo, gelado, úmido, exaustivo – pelo menos para quem nao esta acostumado.

Determinado momento escorreguei no rio, minhas pernas estavam muito cansadas, tremendo. O volume de água gelada descendo contra é muito forte, para quem não tem o costume de wadear, é muito difícil. Deu saudades do motor elétrico.
Escorreguei nas pedras mas nao afundei, 2 metros abaixo me levantei e voltei a arremessar, as vezes A Mãe Natureza aplica umas dessas pra gente se ajeitar no prumo da pescaria e acertar o pesqueiro. E nesta vez aconteceu, nao comigo, mas com o Chris, que durante uma pequena aula de arremesso spey deixou a pochete na margem do rio e só nos demos conta algumas milhas abaixo, ele teve que subir uma colina para chegar na estrada e voltar, uma caminhada que levou uma hora para voltar.

Tim, tinha um encontro a noite, e estava ansioso para ir embora, cara nao sabia se pescava ou se ligava pra guria. Mas ficou na dele até a hora de subir o bote na carreta.

Descemos mais um bom tanto, batendo com as 99 quando decidiu parar para tentar o swing. Subi um pouco o rio com as pernas já no fio da gaita, as mãos então nao seguravam nem uma mosca no dedo, mas tentei. Nao bateu, o Chris subiu aonde eu fui e mais 2 metros acima, e então o milagre, uma pequena steelhead de 5 kg bateu (as médias são de 10 a 15 kg)  “FISH ON! FISH ON!” Deu tempo de ver o pulo do belíssimo animal com seu dorso preto, laterais pratas e barriga branca como a pura da Bolívia. Que animal lindo. Deu 2 segundos estourou o tippet. Eu havia feito um nó de vento durante a aulinha que o Chris ficou com preguiça de tirar.

Depois dessa, descemos mais animados, mas nao deu 300 metros já paramos mais uma vez, Tim já estava ficando ansioso, era 4 da tarde, o encontro era as 5, estavamos 200 milhas de Seattle.

Eu, podre, acabado querendo arremessar mas nao conseguia, nao adiantava, nao ia, tem que estar descansado e preparado para uma dessa.

Mais um pouco e chegamos a rampa. No carro, o cachorro ficou esperando o dia inteiro.
Barco na carreta, uma cerveja geladíssima para me alegrar e tocamos pro outro carro, Tim tirou wader na maior pressa, na hora de nos despedirmos larguei uma frase que segundo Chris foi a que melhor em toda sua vida de guia descreve a pescaria de steelhead:

 

“IM BROKE!” (no sentido de: Estou totalmente fudid*!) 

Não foi uma mega frase criativa saída da agência de propaganda W/Brasil, mas acredito que a intonação e maneira de dizer e todo o sentimento que pus na frase – naturalmente, sem querer – deve ter impactado nosso guia e tudo se resumiu nisso. “IM BROKE !”. O cara não parava de rir.

thanks Friends! 

Eta pescariazinha difícil. Mas eu nao pensaria duas vezes para voltar a Forks com mais calma, em um dia de rio em melhores condições – água menos clara – e com pelo menos 3 dias de pesca e 3 meses antes na academia para reforçar as pernas e ganhar um pouco mais de confiança para wadear.  As aplicações das técnicas são fascinantes, o lugar é muito bonito, a aura dos melhores rios de steelhead do mundo com a luz azul do dia, é uma experiencia que nunca mais vou esquecer.

 

Depois de nos despedirmos do Chris, rumamos a Seattle, 200 milhas, e o rapaz com a fissura na garganta de pegar a guria no bar, e eu ali, tremendo de frio me aquecendo aos poucos. Paramos no drive through de uma fast food qualquer e entramos na balsa, me deixou no hotel e foi para o encontro 2 horas atrasado – perguntei depois se tinha tido sorte, disse que sim, acho que é papo. Deitei na cama do quarto do hotel e apaguei.

Sonhei que uma steelhead vampira vestindo uma camisa de flanela mordia minha vara – e no sonho doeu pra caramba.

Mais sobre a fábrica.
O galpão do estoque sim, é grande, mas é impressionante o tamanho da fábrica em relação a quantidade de varas que produzem e a qualidade que conseguem, tanto no acabamento quanto no produto e sua performance. Quando a demanda aumenta, algumas pessoas montam as varas em casa, e ganham por cada passador colado. Ver ali, tocar, saber como as varas são feitas e vendo o desenhista trabalhando e depois a aplicação prática de uma vara top de linha (99 e TCX duas mãos) aumentou em muito a minha percepção sobre como tudo é uma rede interlaçada e talvez seja aí que a alquimia da salinha proibida esteja espreitando e agindo. E irei continuar a  passar essas informações e magias da pesca com mosca a todos vocês, seja na escolha do melhor material de pesca que se pode comprar ou quando ligam aqui para contar piadas quando tenho 30 pacotes para fazer.

 
 

addendo secção turismo:
Quanto a visita a cidade de Seattle – resumi a visita a duas fly shops e muita andança atrás de um lugar underground que tocasse rock n roll, mas não achei, grunge is dead.

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